Você tem memória fraca? Custa para se adaptar às regras? Preocupa-se demais ou é um sonhador? Se algo disso ocorre com você, parabéns. A sabedoria popular diz que uma desvantagem ou um mau hábito é algo a ser evitado. No entanto, as descobertas mais recentes mostram que uma desvantagem é uma "dificuldade desejável". Esses obstáculos podem variar de ter menos memória que um peixe − ou qualquer um dos exemplos anteriores − a ter dislexia ou déficit de atenção. É possível que algumas de suas desvantagens tenham sido motivo de críticas de pessoas do seu ambiente ou que você tenha sofrido em silêncio. Mas, como insistem pesquisadores como Malcolm Gladwell e Barbara Oakley, um primeiro passo para transformar uma dificuldade em uma vantagem pessoal é vê-la de outra forma (e parar de sofrer com isso).
A memória fraca é sinônimo de criatividade. Oakley explica que quando algo escapa da nossa mente, deixamos a porta aberta para que entre uma nova ideia. Quase todo mundo deseja que sua memória seja impecável. Mas se não for o seu caso, fique tranquilo. É bem possível que você tenha uma capacidade maior para encontrar atalhos mentais e sintetizar conceitos. Por outro lado, não se adaptar bem às regras é uma das principais características dos inovadores. Eles lutam para encontrar uma maneira diferente de fazer as coisas. Por isso, seguir as normas nem sempre é tão positivo. O mesmo vale para as pessoas que caem na preocupação constante. É claro que isso é exaustivo, mas tem uma vantagem: elas são capazes de se antecipar e de fazer bons planejamentos.
A dislexia também é uma dificuldade desejável. Quem a tem nem sempre tem um período escolar fácil, mas, curiosamente, ela traz muitas vantagens positivas para a vida. Muitos empreendedores − como Richard Branson, fundador da Virgin, e os criadores da JetBlue, Cisco e Charles Schwab − são disléxicos. Essa característica lhes deu um ponto de vista bem diferente em relação aos demais mortais. De fato, graças à dislexia, e para compensar as dificuldades que ela significa, desenvolveram outras habilidades que de outra forma teriam ficado inativas.
O segundo passo para que uma dificuldade se torne algo desejável é esquecer as comparações com o resto. O cérebro humano tende à comparação. Somos de certa maneira em contraste com os demais. Sob essa perspectiva, tudo que é diferente das normas faz com que nos sintamos, no mínimo, estranhos − e pretendemos eliminar essa característica diferente. Mas é um erro. As pessoas brilhantes são aquelas que se destacam precisamente porque fazem algo diferente ou estranho. Uma boa ideia consiste em desenvolver o que te faz "esquisito" para tirar proveito disso. Como resumia Albert Einstein: "Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, passará a vida toda achando que ele é estúpido".
Por último, para desenvolver a dificuldade desejável, você precisa escolher a liga em que vai jogar. Intuitivamente, isso é feito no mundo da sedução. Todos nós conhecemos pessoas pouco agraciadas que conquistam com seu humor ou com sua inteligência. De maneira semelhante, podemos aplicar isso para nossas outras habilidades. Não escolha áreas onde a chave para o sucesso seja sua dificuldade. É claro que se tiver uma memória fraca, por exemplo, você poderá treiná-la, mas nunca chegará a ganhar um prêmio por ela. É preciso buscar o próprio caminho, aquele que permita que você se destaque (e seja feliz) utilizando essas "dificuldades desejáveis". Talvez seu futuro passe por trabalhos mais criativos, por exemplo. Ou, no caso da dislexia, possa iniciar um empreendimento.
Em resumo, todos temos desvantagens em nossa forma de ser, e nosso desafio é transformar nossas dificuldades em algo desejável. Para isso, não podemos ficar de braços cruzados, lamentando o que somos. Temos de mudar o ponto de vista, evitar comparações e procurar a área onde possamos aproveitar o que nos faz diferentes. Por isso, se você é um desastre em algo, já sabe: tire proveito disso.
Fonte de texto: brasil.elpais.com
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