Estimulação Tátil é o toque consciente, estruturado, que ativa a pele, nosso maior órgão e receptor fundamental dos sentidos. O conhecimento que alguns terapeutas, educadores e familiares têm dessa técnica no Brasil, foi trazido e vem sendo transmitido pela sueca Yvonne Evborn ao longo dos últimos 12 anos. (ver quadro na versão online).

Conheci Yvonne em julho de 2002, no Congresso Brasil-Suécia, em São José dos Campos-SP. É uma pessoa com profundo conhecimento, bondade nos olhos e grande caráter humanitário. Naquela oportunidade aprendi as técnicas básicas da estimulação tátil que passei a aplicar em meu filho com autismo, então com 6 anos de idade.

Em 03 de abril de 2011, voltamos a nos encontrar em Taubaté-SP, na casa da Dra. Lília Maíse de Jorge, docente e pesquisadora da UNITAU – Universidade de Taubaté, dessa vez para a conversa reproduzida nesta matéria. A ‘pedagoga do toque’, como ela se refere a si mesma, falou sobre o início da Estimulação Tátil em sua atuação profissional, e de como seu trabalho foi determinante na evolução de crianças na Suécia e no intercâmbio com profissionais no Brasil.

Descoberta e compartilhamento

No início dos anos 90, Yvonne Evborn era uma pedagoga em uma escola para alunos com necessidades especiais em Estocolmo, Suécia. Trabalhava com um grupo de alunos bastante agitados, sem concentração, irritados e considerados ‘difíceis’. Todos eram tidos como crianças mal comportadas e, para a educadora, um desafio ao qual valia à pena investir dedicação. Durante aquele período sua atenção foi aguçada ao perceber que nos momentos em que tinha contato físico com seus alunos, tocando-lhes os braços ou ombros durante atividades normais do cotidiano, eles se mostravam mais calmos, focavam mais a atenção e se concentravam mais nela. Yvonne verificou que, ao permanecer ao lado deles e havendo contato braço com braço, eles se aquietavam. Começou a questionar as razões desses episódios e verificou que havia uma constância nessa melhora de comportamento, sempre despertado quando tocava os alunos nas costas, ombros e braços. Por essa razão decidiu aprofundar-se no assunto e seus estudos a levaram ao encontro da terapeuta Gunilla Birkestad, que dedicava-se a pesquisas sobre o tema há algum tempo. Coincidentemente, Gunilla havia passado por um processo semelhante ao de Yvonne. Ao trabalhar com pessoas privadas de movimento da cintura para cima, com paralisia, que apresentavam quadros muito graves de espasticidade, e não conseguiam se alinhar posturalmente, ela percebeu que com uma intervenção, tocando e segurando ao mesmo tempo o ombro e o cotovelo, aquele membro parava de ter espasmos. Ao repetir isso no outro lado da pessoa, o outro braço também relaxava, interrompendo os espasmos. Gunilla passou a fazer essa intervenção, tocando e segurando também os membros inferiores, entre joelho e tornozelo. A partir daí foi repetindo e aperfeiçoando os movimentos com os pacientes, e registrando os padrões em que essa terapia deveria ser aplicada para a obtenção dos resultados desejados.

Com Gunnila Birkestad, Yvonne estudou para tornar-se uma Terapeuta do Toque. Após seus estudos, retornou à escola em que trabalhava passando a aplicar as técnicas aprendidas. À época, seu grupo tinha cerca de cinco crianças com autismo com as quais passou a utilizar a Estimulação Tátil obtendo resultados muito positivos. Como havia outras classes e outras crianças que poderiam usufruir dos mesmos benefícios que seus próprios alunos, Yvonne começou a passar seu conhecimento e a formar professoras nas técnicas da terapia do toque, as quais foram totalmente incorporadas como uma prática pedagógica entre os alunos daquela escola.

Em Estocolmo, Yvonne Evborn hoje é consultora das técnicas de Estimulação Táctil. Em Taubaté, ela se emocionou ao afirmar categoricamente que essas técnicas são algo ao alcance de muitas escolas e de cuidadores, e que trazem grandes ganhos para toda e qualquer criança melhorando sua concentração. Ressaltou que a prática constante é essencial. "Sem ela, tudo o que é dado nos cursos de formação pode ser perdido. É preciso manter os movimentos e a sensibilidade dos terapeutas sempre aguçados, sejam profissionais ou cuidadores", ensina.

Para exemplificar a eficácia da terapia, ela descreveu o caso de sua aluna Mercedes. A menina, autista com grande comprometimento, chegou à escola entre 5 e 6 anos de idade para ser atendida. Àquela época, não tinha nenhum contato visual, sua mãe não conseguia abraçá-la porque ela repudiava qualquer contato físico mais intenso, reagindo com aversão. Era rígida, não parava, consumia o tempo em movimentos auto estimulatórios, não parecia ver ou entender o que se passava à sua volta. Para pegar um talher ou qualquer outro objeto, precisava ser guiada fisicamente. O cuidador "era seus braços, suas pernas, sua vontade de se movimentar’ diz Yvonne. Durante cerca de 3 anos, Mercedes foi trabalhada por Yvonne diariamente na escola. A sensibilidade ao toque começou a transparecer após longo trabalho de muitos meses, sem esmorecer jamais. Um dia, a menina estava deitada na maca para a sessão, de bruços, e Yvonne começou a fazer os movimentos da Estimulação Tátil como de costume. A menina, que nunca havia demonstrado qualquer intenção de comunicação, levantou a cabeça e olhou nos olhos de Yvonne, demonstrando que queria referir-se ao toque que acabara de sentir em suas costas. "Até hoje eu sinto a energia que aquele momento me proporcionou", confessou Yvonne. A partir dali, Mercedes passou a ser mais atenta às ordens e comunicações de Yvonne, aprendeu a esfregar os próprios braços. Um dia quando a mãe chegou à escola para buscá-la, ela espontaneamente lhe deu um abraço. a mãe emocionada disse: "ela parecia uma espécie de zumbi, e agora é a minha filha".

Yvonne afirma que da mesma forma, crianças com fala, quando estimuladas diariamente, passaram a entabular as primeiras articulações de palavras, a formar pequenas frases. A constância é primordial. ‘O importante é aplicar todos os dias’, explica a terapeuta. Para isso os pais são convidados desde o início a participar das sessões e eles próprios recebem orientações sobre como ministrar os movimentos básicos da técnica do toque em seus filhos. Esse é um aspecto essencial para que a criança seja estimulada ininterruptamente.

Sobre Estimulação Tátil

Estimulação Tátil é um modo neuropsicológico e neurofisiológico de tratamento. Pode também ser definida como um treinamento dos sentidos e um método de cuidado diário e treinamento.

A palavra "tátil" significa "relacionado com o sentido do tato". Quando falamos de um sentido do tato na verdade estamos nos referindo às várias sensações que a pele gera e seus efeitos sobre toda a pessoa. Na pele existem receptores para toque, pressão, vibração, dor, calor e frio. Quando a pele é estimulada de modo suave e conscientemente através da Estimulação Tátil, vários destes receptores são ativados. Sua informação viaja ao longo da rede nervosa para o cérebro, atingindo o sistema de coordenação (o sistema de oxitocina). Os efeitos sobre a pessoa como um todo são imediatos.

Pesquisas na Suécia e em outros países efetuadas pela professora Kerstin Uvnäs-Moberg, do Karolinska Institutet e no Touch Research Institute, Florida, EUA, revelaram que o toque conduz a:


Calma e paz
Alívio da dor
Aumento da curiosidade
Decréscimo da agressividade
Aumento de peso de crianças e adultos com peso muito baixo
Melhoria da qualidade de vida

A Estimulação Tátil é usada para:

- Dar suporte ao desenvolvimento da organização neural
- Melhorar a percepção/compreensão do corpo
- Fortalecer laços de pais/filhos/companheiros
- Melhorar a comunicação
- Restabelecer as funções de estômago e intestinos
- Melhorar o sistema imunológico

A necessidade do toque aumenta em caso de doença, lesões e deficiência. Isso é ainda mais significativo em pessoas com autismo e com vários tipos de necessidades especiais, danos cerebrais adquiridos em consequência de acidentes ou AVC, pessoas com fibromialgia e pacientes em UTI. É uma ajuda importante em cuidados paliativos. Na Suécia e em outros países a Estimulação Tátil é adotada em pré escolas, escolas de educação especial, atividades recreativas, reabilitação, bem estar na maternidade, lares de idosos, clínicas de tratamento da dor e entre trabalhadores de escritórios e empresas, sendo um meio de tratamento para todos que desejam relaxamento e aumento na qualidade de vida com alegria e felicidade. Nunca é tarde demais para começar!

Fonte do texto: Revista Autismo

Fonte da imagem: Baby Center