Por Graça Gouvêa
A fantasia é por excelência o modo pelo qual a criança cria e modifica a sua realidade. Para uma criança, fantasiar é criar um espaço onde os encontros impossíveis acontecem. Brincar é uma atividade inerente ao desenvolvimento humano.
Enquanto adultos podemos buscar resgatar o olhar perdido da criança que há em nós, procurando restabelecer uma forma mais saudável e autorregulada de ser. Fantasiamos para criar, para transformar, permitindo que através das imagens de nossa fantasia, um fluxo de energia renovadora se expresse. Este é um processo através do qual podemos tentar restabelecer o contato e a percepção dos muitos "eus" que nos compõe.
Podemos usar um pouco de Psicanálise para "falar sobre" a fantasia, considerar a sua função de ponte entre a vida consciente e inconsciente, falarmos sobre a necessidade da fantasia para a evolução do pensamento simbólico, ou ainda como uma herança da "mãe-boa" dentro de nós, que nos permite criar e crescer. Mas em síntese o que nos interessa aqui e agora, é que podemos alcançar um funcionamento mais integrado e autorregulador, quando permitimos que nossas fantasias se expressem impulsionando nossa criatividade e ação, e quando focalizamos nossa atenção sobre o fantasiar.
A saúde é uma resultante de sermos capazes de realizar ajustamentos criativos em relação ao meio, no entanto, quando estes ajustamentos se cristalizam assumindo formas crônicas de reação, uma função básica do organismo, a autorregulação, se distorce, deixando de ter um funcionamento saudável. Neste momento, reorientar-se para o viver criativo, é uma possibilidade de obter e manter a saúde.
Na psicoterapia com crianças, a abordagem gestáltica oferece uma possibilidade de reorientar as funções de contato (ver, ouvir, sentir, falar...) de forma a apoiar seu desenvolvimento de uma forma mais organísmica, isto é, orientado por suas reais necessidades de desenvolvimento global. Trabalhando no sentido de ressignificar com a criança e a família atitudes e concepções baseada nas introjeções recebidas familiar e socialmente, onde rótulos tais como: " é uma criança agressiva"; "não gosta de estudar " ; "é muito tímido e não conversa com ninguém" entre outros, criam uma condição que distorce a imagem da criança diante de si mesma e em seu ambiente, cristalizando muitas vezes atitudes que fixam os problemas, em vez de resolvê-los.
Através do uso da fantasia, a criança pode brincar de ser isto ou aquilo, explorando novas possibilidades de ser, escolhendo e se apropriando de novas condutas O brincar pode favorecer, tanto na criança quanto na família, a compreensão e atuação de uma dinâmica familiar adequada em relação às novas possibilidades.
Fonte: Gestalt em Figura