"Branca de Neve" é um conto cuja interpretação pode estar muito relacionada com o processo de crescimento e a passagem da infância para a adolescência. Isso não significa que a criança ainda distante da puberdade não possa interessar-se pela história. A curiosidade que os relacionamentos adultos despertam está presente desde cedo e muitos dos sentimentos e conflitos descritos pela narrativa são vividos também pelos pequenos.
Inicialmente, o conto trata das origens e do grande interesse que a criança tem a respeito de ter sido ou não desejada pelos pais. O bondoso rei e sua esposa queriam muito bem à menina, mas com o falecimento da rainha, entra em cena a madrasta má, que detesta Branca de Neve. Essa oposição entre a mãe e a madrasta está ligada à forma maniqueísta como a criança percebe determinadas emoções no início da vida: é como se a mãe se dividisse em duas pessoas diferentes – uma da qual a criança tem raiva, inveja e que nem sempre atende a seus desejos, e outra que é bondosa, acolhedora e amável. Se tudo corre bem, mais à frente a criança será capaz de perceber a mãe como uma só pessoa que, assim como todo o ser humano, é falível, mas dotada de qualidades e amorosa.
Merece destaque a questão do narcisismo da madrasta má, que, com inveja e ciúmes da menina, olha–se no espelho e quer confirmar sua beleza a todo momento. A criança, inicialmente, tende a ser egocentrada e focada em suas próprias sensações e necessidades. Esta maneira de ser é fundamental para o desenvolvimento, mas precisa aos poucos ser abandonada, dando lugar à percepção do outro, à capacidade de compartilhar e de se frustrar.
Outra questão abordada na narrativa é o ciúme que as crianças sentem de seus pais e de sua condição de adulto. Branca de Neve quer o amor do pai só para si e o disputa com a madrasta. Esta, tão infantil quanto ela, revida violentamente. A menina, então, foge para a floresta com a ajuda do caçador – ou seja, se sente sozinha e abandonada à própria sorte.
A princípio ela vive a experiência de se virar por conta própria como uma tarefa impossível. Porém encontra os anões, que podem simbolizar seus recursos internos. Aos poucos, eles a ajudam a lidar com as situações: a acolhem e esperam dela atitudes responsáveis e de compartilhamento. Isso faz com que a criança se questione sobre sua capacidade de encontrar internamente forças para cuidar de si mesma e também a ajuda a perceber que determinadas exigências são importantes para o crescimento.
Fonte: Toda criança pode aprender