Você já ouviu falar de Hermenêutica? Não, não é de comer, nem de passar no cabelo, muito menos o nome de um seriado de televisão estadunidense. Hermenêutica é o nome que se dá ao ramo da filosofia que é responsável pela interpretação de textos.

O nome faz alusão ao deus grego "Hermes" (representação na imagem acima) que era o mensageiro dos deuses do Olimpo, o responsável por levar a palavra divina aos homens, ou seja, a revelação das coisas ocultas aos mortais. Este termo, que foi inaugurado pelos gregos, teve sua utilização atualizada pela teologia judaico-cristã e, posteriormente foi emancipado do terreno da interpretação das obras religiosas para o das obras científicas com o advento do positivismo e sua nova concepção de mundo.

Desta forma, a hermenêutica passou a ser tema de estudo de diferentes e importantes filósofos dos século XVIII, XIX e XX, como Schleiermacher, Dilthey e Gadamer, tendo implicações práticas para a filosofia, a pedagogia, o direito e a psicologia.

Sim, a hermenêutica é extremamente importante para a psicologia, todos os psicólogos a utilizam e, muitas vezes nem fazem ideia disso. Explico: quando falamos que a hermenêutica é a ciência e arte de interpretação de textos, ao falar de texto não estamos dizendo somente um aglomerado de palavras escritas, mas a qualquer com o qual se pode extrair um sentido. Sendo assim, fotografias, esculturas, eventos históricos, produções orais, todas estas podem ser compreendidas como texto (Campigoto, 2013). Da mesma forma é o comportamento humano, que pode ser "lido", interpretado, pois é dotado de um sentido.

Este sentido do comportamento humano não é algo "abstrato" que teorizamos para uma abordagem A ou B, mas algo que existe como fruto da interação humana: da interação do sujeito com ele mesmo, de sua interação com outros sujeitos, de sua interação com o mundo.

Assim, toda vez que, em um consultório, em uma empresa, hospital ou em qualquer lugar, o psicólogo fizer alguma interpretação de um dado, ele está usando determinada hermenêutica. Mas para que isso importa? Simples, pelo fato de que, uma interpretação, para ser válida precisa de critérios bem estabelecidos e esclarecidos. Não se trata simplesmente de ligar pontos aparentemente evidentes, pois como dizia Vigotski (1927/2013) que se a ciência fosse algo evidente, todos seriam cientistas e o que fazemos perderia o sentido.

E quais seriam estes princípios? Vários, e não caberia aqui descrevê-los, mas posso listar alguns deles: o princípio da determinação do sentido, que diz que é o autor do texto que determina o sentido da obra, e não o leitor; o princípio ecológico da ação, que diz que apesar do texto ter um sentido determinado pelo autor, ele pode adquirir distintas interpretações, pois ele pode "ecoar" nos leitores de forma diferente do que foi pensado pelo autor; o de que o texto deve ser interpretado em seu contexto, e não isolado; dentre outros.

Ou seja, o objetivo deste texto é mostrar a importância da hermenêutica na construção do pensamento psicológico e, como a maioria dos profissionais ao menos faz ideia de que ela existe, o que demonstra que nossa formação precisa melhor um pouco mais em suas bases teóricas.

Referências

Campigoto, J. A. (2003). Interpretação de textos, de história e de intérprete. Revista Brasileira de história, 23(46), 229-252.

Vigotski, L. s. (2013). El significado histórico de la crisis en psicología. Obras Escogidas, Tomo I. Madrid, Machado Nuevo.

Fonte: psicologia.com/" target="_blank">Rede Goiana de psicologia